Friday Black
Nana Kwame Adjei-BrenyahFriday Black, livro de estreia de Nana Kwame Adjei-Brenyah, nos mostra que não. Nesta elogiada coletânea de doze contos definida pelo The Wall Street Journal como "impressionante", tudo parece absurdo à primeira vista. Mas, em seguida, o enredo assume paralelos com a realidade e transporta os leitores de volta a acontecimentos recentes veiculados à exaustão nos noticiários. No conto Os cinco de Finkelstein, o assassinato de cinco crianças negras na porta de uma biblioteca, seguido do julgamento do perpetrador racista, relembra a história de Trayvon Martin e de outros tantos jovens negros; o atentado em uma escola que coloca dois adolescentes — vítima e algoz — numa discussão post mortem no purgatório é o mote de Cuspindo luz; a corrida mortífera de humanos-zumbis pelo consumo na Black Friday, numa elegia ao capitalismo sanguinário e às suas injustas relações de trabalho, se repete nos aterrorizantes Friday Black, Como vender uma jaqueta, segundo o Rei do Gelo e No varejo.
Neste livro, a violência e o grotesco atingem seu nível máximo, sem cortes, como numa caricatura da sociedade moderna. O futuro — uma alegoria do tempo presente — é apresentado em visão panóptica, pela qual quem lê se reconhece como voyeur de algo que gostaria de participar. Em Friday Black, é por meio da barbárie que o ser humano sacia os seus desejos mais irascíveis.
Adjei-Brenyah, grande promessa da literatura norte-americana contemporânea, é um radical do absurdo. Com humor mordaz, coloca os leitores em uma situação constrangedora, numa mixórdia de sentimentos que só os grandes escritores conseguem produzir. Não existe alívio. Segundo o próprio autor, "nada é mais chato do que um final feliz", frase que talvez resuma esta obra, reflexo do século 21.